26.3.08

Ainda do Jardim das Hespérides e do Lagarto Gigante que afinal só media 17 cm...

Muitos mitos povoam e povoaram estas ilhas... um dos mais cómicos terá sido aquele que foi apelidado por Estela Guedes, Directora do TriploV, como a maior fraude da Zoologia. O fabuloso Lagarto Gigante, o Macroscincus coctei ou o Lagarto da Atlântida. O réptil começou por medir um metro e meio e, ao longo dos anos acabou nuns meros 17 cm! Dados daqui.
No
último post... viu-se como no princípio do século passado os poetas destas ilhas evocavam o mito hesperitano, algo muito próprio do espírito da época e, se calhar, podem ter ido buscar motivos à zoologia.
É que dizia-se então que o Lagarto Gigante destas ilhas (supostamente habitante do Raso, do Branco e Santa Luzia) era o último sobrevivente do que foi outrora a Atlântida. Grandes homens da ciência da altura foram ao ponto de afirmar que o dito só se alimentava de maças - lembram-se daquelas que o dragão do mito do Jardim das Hespérides guardava? - ainda que nestas ilhas só houvesse gramíneas.
Baltasar Osório (dizia que o lagarto) se alimentava de toda a espécie de frutos polposos. Peracca (que afirmou ter trabalhado com 40 desses lagartos muitos deles vivos) foi peremptório: o alimento preferido do Macroscincus coctei eram as maçãs.”! (Dados e citações daqui).
Segundo registos, figuras das ilhas e não só, como Francisco Newton, procuraram pelos lagartos, chegando a enviar inúmeros exemplares para Lisboa e Paris. - A carta ao lado, de F. Frederico Hoppfer a Barbosa du Bocage, dá conta do envio de 2 remessas de repteis, sendo a primeira do ilhéu Branco e a segunda do Branco - Contudo, parece que os últimos exemplares, confinados que estavam ao ilheu Raso, vieram a desaparecer, quando
uns pescadores de Santo Antão, em 1915, soltaram por lá cães... De modo que até hoje nem fumo nem mandado e nem ossos do Lagarto Gigante.
Este post e antepenúltimo foram baseados no imenso material escrito por Estela Guedes, disponivel nos diversos links do index do TriploV - CaboVerde
e são assuntos que devem ser desenvolvidos por quem esta mais capacitado. O que é certo é que é estória do Lagarto Gigante é das mais engraçadas e mirabolantes que já li. Fica o convite para visitarem o site, tirarem as vossas conclusões e corrigir algum erro meu. Imagens: aqui e aqui.
Entretanto... sobre este mesmo assunto gostaria de convida-los a ler o post intitulado "Maior fraude da Zoologia, ou a superficialidade da má-fé" do Professor Jorge Sousa Brito, autor do blog O outro lado do Eu. Afinal parece que que a estória, se a houve, pode não ter sido bem assim...

15.3.08

Estas iIhas e o Mito Hesperitano

No seguimento do último parágrafo do post anterior recomendo o artigo de Ricardo Riso intitulado: Mito Hesperitano, Pasargadismo, Insularidade: momentos de construção da poesia cabo-verdiana no século XX. Destaco... "No início do século XX, os poetas tentam criar uma história, um passado para o arquipélago diferenciando-o do português colonizador, o pai, e que valorizasse a mãe-terra crioula, a mátria. Entretanto, os escritores ainda recorrem a referências européias na busca de um passado heróico para sua pátria e, assim, chegam ao mito hesperitano. As origens do mito são descritas por Simone Caputo: Aqui pontuamos um topos interessante do percurso de busca de identidade crioula: o recurso ao mito arsanário ou hesperitano como origem (associado à idéia de pátria). As obras de José Lopes e de Pedro Cardoso, já nos seus títulos (Hesperitanas, 1928, e Hespérides, 1929; Jardim das Hespérides, 1926, e Hespéridas, 1930, respectivamente) interpretam a origem como: ilhas do velho Hespério – pai das Hespéridas – que abrigavam jardins repletos de pomos de oiro, guardados pelo dragão de cem cabeças, morto por Hércules. As “ilhas perdidas no meio do mar”, destacadas por Jorge Barbosa em seu antológico Arquipélago, 1935, já eram identificadas por Camões, em Os lusíadas (canto V, VII, VIII, IX) como Cabo Verde (Cabo Arsinário ou Estrabão)." - Imagem daqui e fotografia da Caboindex

6.3.08

O pedido feito em 1900 para o então jovem José Lopes da Silva

Meu E.mo Chefe, amigo e Mestre, Conselheiro Bocage
Venho perante V.ª Ex.ª expor-lhe o seguinte:
Ha n’esta provincia um rapaz que me tem dispensado um verdadeiro affecto d’ irmão e que me tem chegado muita vez a consolar e auxiliar nas minhas lides scientificas.
Esse homem, digno da protecção de V.ª Ex.ª, tem o nome José Lopes da Silva, exerce na ilha de S.to Antão o cargo de professor regio da aula de 2ª classe na villa da Ribeira Grande. É preciso dar uma recompensa a esse cavalheiro. Lembrei-me d’um cargo para elle e vou dizel-o a V.ª Ex.ª rogando-lhe a fineza de se empenhar o mais que puder para me collocar bem o rapaz.
Está dito que é professor regio, e aonde. Ganha só 30$000 rs. Ora, ha n’esta provincia o cargo d’Inspector d’Instrucção publica, cargo que ninguem exerce. Pois eu quero que o Lopes seja nomeado - mas permanentemente - Inspector d’Instrucção primaria, com o vencimento mensal de 60$000 rs. Não é muito e o cargo é mister.
Assim ficava elle desligado do Magisterio; mas, se isto fôr difficil de fazer-se, o que não me parece, então eu pedia para que o meu protegido e bom amigo fôsse nomeado - cargo permanente - professor regio inspector, continuando elle a reger a cadeira que rege, dando-se-lhe mais 30$000 rs por mez para prefazer os taes 60$000 rs.
Assim ficava mui bem definido o cargo d’inspector primario, que ninguem aqui exerce. Creia V.ªEx.ª que é preciso fazermos bem a esse homem, a quem na minha vida d’explorador tenho devido aqui o affecto d’ irmão e em cuja casa, por signal, me acho agora hospedado. Elle tem a maxima competencia e de mais é casado e tem filhos. (...)
Annexar-lhe como professor o cargo de inspector (só d’instrucção primaria) e dar-lhe por mez mais 30$000 réis.

É um acto de justiça. Estimarei que V.ªEx.ª tenha passado bem e apresento-lhe os protestos da minha maior estima, admiração e respeito, rogando-lhe que me responda, o que desde já agradeço.
Creia-me V.ª Ex.ª
Amigo, admirador, e att.t creado
Ilha de S.to Antão de Cabo Verde
13 - agosto - 1900
Francisco Newton
Naturalista do Governo
Obs: Clicar na frase para saber...
Carta retirada daqui.
.
Obs: "Esse guia caboverdiano, que Newton trata por rapaz, dizendo que o acolhera como irmão, veio a ser vice-cônsul do Brasil em Cabo Verde, presidente da Câmara, laureado pela Academia Francesa das Letras, etc.. É o poeta José Lopes da Silva, autor de livros como Hesperitanas e Jardim das Hespérides. (...)". Daqui.

5.3.08

Nosferatu de Murnau (1922) - "Tralha"

"An iconic film of the German expressionist cinema, and one of the most famous of all silent movies, F. W. Murnau’s Nosferatu: A Symphony of Horror continues to haunt — and, indeed, terrify — modern audiences with the unshakable power of its images. By teasing a host of occult atmospherics out of dilapidated set-pieces and innocuous real-world locations alike, Murnau captured on celluloid the deeply-rooted elements of a waking nightmare, and launched the signature “Murnau-style” that would change cinema history forever. (...)" - Mais aqui.

3.3.08

As Linhas de Força e os Tesouros do Youtube

Encontrei novamente a fotografia que ilustra o post intitulado “O Significado do Peixe”. Informo que o autor é Pedro Loureiro e por este pequeno texto subentendi que a fotografia foi tirada em 2005 na Baia das Gatas – São Vicente.
A imagem fez-me regressar no tempo mais uma vez. Vi-me lá no fundo da sala de Teoria do Design a ouvir Setôr Sardinha a falar da importância das linhas de força de uma fotografia e de como se deve tirar partido delas para vincar melhor o sentimento/ideia do que se pretende retratar...
Na altura, há uns 20 anos, frequentava a António Arroio e nos estudos, a aprendizagem e a pesquisa eram feitas nos moldes de então, nada de internet, DVD's, câmaras digitais, etc. Por exemplo... os grandes clássicos dos primórdios do cinema eram analisados à luz do que os Setôres nos falavam, em manuais, criticas, fotogramas ou, muito esporadicamente, através de gravações em VHS. Foi assim que nomes como Fritz Lang, Eisenstein, Murnau, Griffith, Bunuel, o incrível Méliès, passaram a ser meus conhecidos sem, muitas vezes, ter visto um filme deles, por mais hilário ou surreal que possa parecer agora. Logo, foi um
grande prazer "descobrir”, há tempos, todos esses tesouros acessíveis no Youtube. Metropolis, O Couraçado Potemkin, Ivan o Terrivel, Nosferatu, M Matou, Birth of a Nation, Un Chien Andalou, Le voyage dans la lune e muitos mais. Só posso deixar o convite. Hoje em dia, com a net, só não aprende quem não quer.