14.9.06

Baía do Porto Grande - São Vicente

A minha próxima paragem… dentro de dias.
Volto em princípios de Outubro.

13.9.06

Port Praya, Cape Verde 1838


Acreditem ou não, só reparei que as duas imagens eram iguais depois de as colocar uma em cima da outra. Contudo, a primeira é um desenho a tinta (fabuloso tom de sépia que ganhou com os anos) e a segunda é uma gravura (detalhes mais claros) feita a partir do desenho. A autoria é atribuída a Charles Wilkes e a data é 1838.

Charles Wilkes foi o homem que comandou uma expedição de seis navios dos Estados Unidos que, em Agosto de 1838 deixaram Norfolk, na Virgínia para uma expedição no Pacifico Sul. A missão era para explorar as ilhas dessa região, investigar o potencial em termos de comércio e enfatizar o poder da América. Passaram por estas ilhas logo no início da viagem. Para descobrir mais é só clicar no título do post.

11.9.06

Prelúdio

Quando o descobridor chegou à primeira ilha
nem homens nus
nem mulheres nuas
espreitando
inocentes e medrosos
detrás da vegetação.
Nem setas venenosas vindas no ar
nem gritos de alarme e de guerra
ecoando pelos montes.

Havia somente
as aves de rapina
de garras afiadas
as aves marítimas
de voo largo
as aves canoras
assobiando inéditas melodias.

E a vegetação
cuja sementes vieram presas
nas asas dos pássaros
ao serem arrastadas para cá
pelas fúrias dos temporais.

Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando
o pé direito na areia molhada

e se persignou
receoso ainda e surpreso
pensando n'El-Rei
nessa hora então
nessa hora inicial
começou a cumprir-se
este destino ainda de todos nós.

Jorge Barbosa

7.9.06

Mapas Antigos de Cabo Verde


É interessante reparar como ao longo dos séculos a percepção da distribuição das ilhas foi evoluindo. Para mais detalhes sobre os mapas é só clicar em comentário.

6.9.06

Mindelo há cinco anos - II

Transcrevo outro texto de "Clara Vales" porque penso que é um tema actual. O meu único reparo vai para o tamanho da crónica. Se fosse hoje diria tudo com metade das palavras.

Nem capitães nem segurança

Há dias, dois meninos da “praia d’bote” surripiaram-me o porta moedas. Nada de mais a acrescentar, apenas mais um que foi à vida. O problema, propriamente dito, não está no roubo, o busílis da questão esta no facto de, os piratinhas terem sabido como agir. Enquanto um me distraía, esmolando para um pão, o outro subtraia-me a carteira. Pois é, temos bando, temos organização e temos esquema!
Uma senhora que, no local, presenciou a minha estupefacção, confidenciou-me que os dois fazem parte de um grupo conhecido, cerca de dez, que ciclicamente, percorrem a Rua da Praia, fazendo pequenos furtos, desaparecendo estrategicamente até ao dia seguinte. Informou-me que são conhecidos da Policia e aconselhou-me a pedir-lhes auxílio.
Esperançosa, dirigi-me ao Comando, onde fui prontamente ouvida com todo o profissionalismo. Os polícias presentes, estiveram atentos até ao momento em que perceberam que a minha “estória” era apenas mais uma a acrescentar a tantas outras, se calhar, ouvidas quotidianamente. Pacientemente, fui convidada, por um dos agentes, a ver uma série de fotografias a preto e branco, guardadas cuidadosamente, dentro de uma pequena caixa de papelão, e proceder à identificação do par.
Examinei cerca de cinquenta fotos, divididas, basicamente, em três idades. A dos adolescentes, com olhar revoltado e queixo tenso, a dos “aborrecentes”, fazendo cara de não me importa e a dos mais pequenos, em poses ingénuas e semblante malandro. Reconheci imediatamente quatro ou cinco rapazes, do bando que ronda as imediações de um supermercado que frequento e onde, na maior parte das vezes, pedem uma moeda a troco de nada. Quase todas as fotografias estavam manuscritas no verso com um ou dois nomes, apelidos de pai e mãe e os respectivos nominhas, como “Springuintin” ou “Coxim”.
No meio dessas fotos, mais parecendo pertencer a uma caixa de uma década anterior, havia uma “carinha” muito particular. A fotografia, bastante amarelada, exibia um homem que fixava a câmara passivamente e cujo penteado “black” aliado a um sulco que lhe dividia copiosamente a melena, quase me fez sorrir. No verso lia-se “Rob d’ Jula” a duas letras e tintas distintas. Alguma mão mais ciosa corrigira após a primeira identificação, o nome mal escrito, pois que um A despudorado cobria o IA feito pelo primeiro punho e dois EE tinham sido mascarados por uma borracha de tinta. Nada de enganos, Rob d’ Jula e não Robe de Júlia! O que faria essa figura “lendária” no meio das outras? Deduzi que talvez, alguém menos atento, no momento de a guardar novamente, após alguma identificação apressada, se tivesse enganado na caixa. Não acredito que tenha pensado que bandidos são bandidos, e piratinhas serão ladrões, pelo que o melhor é estarem bem acompanhados e terem no meio deles uma figura mais paterna, mesmo que, isso signifique acabar por confundi-los a todos e aos seus crimes, pois quem de pequeno, faz furto, quando crescer, cometerá roubos, arrombamentos, desvios e violações, que isto de crimes é sempre a subir.
Acabei por identificar apenas um dos rapazes, mas ainda assim com pouca certeza, afinal, não me tinha dado ao trabalho de fixar os traços do meu “pedinte”. Segui o conselho do agente, fui-me embora, ficando de regressar no fim do expediente para saber como estava o andamento do caso.
De regresso à minha rotina habitual, se sem saber como, veio-me à mente o livro “Capitães de Areia”. As hipóteses de recuperar o porta moedas eram quase nulas e deve ter sido essa a forma que o meu inconsciente encontrou para, tranquilamente, pôr uma pedra sobre o assunto, e fugir às implicações reais do acontecido.
Mas confesso… não Há Jorge Amado ou actos vistos à luz de um prisma mais poético que mascare o atordoamento que ainda sinto quando recordo o meu regresso ao Comando da POP.
Devido ao adiantado da hora, foi na rua que falei com o agente à paisana encarregue do meu caso. O policia, ao volante do carro das diligências e, ao mesmo tempo que ia fazendo mil e um malabarismos para estacionar, mesmo colado à parede lateral do comando, com o fito de barrar o acesso de uma das portas da viatura com o vidro escangalhado, informava-me que não, não havia novidades, que regressasse amanhã porque eles, quando roubavam, subiam a Ribeira Bote de onde não desciam até terem comido, bebido e fumado todo o dinheiro. Eu, sem nenhuma esperança no que toca a porta moedas mas, ainda assim, admirada com tanta perícia, perguntei o porquê de tantas manobras, se ele não era policia, se não estávamos nas imediações do Comando da ilha, ao que o agente respondeu a meio tom… “mais ou menos”.
Se a policia que é Policia, tem de defender o património com que trabalha, neste caso, um carro sovado e maltratado, como nos pode defender a nós, cidadãos que procuramos e esperamos protecção em situações idênticas?
Quem responde por esses menores que, pela lei, não podem ser responsabilizados pelos actos que cometem? Se eles têm nomes e apelidos, foram registados, têm pai e mãe. Os pais ou encarregados de educação que sejam responsabilizados. É fácil cair no erro de os transformar em Capitães da Praia de Bote, mas o que é certo é que eles vão crescer.
Quanto a mim, tenho-me esforçado, mas até agora, não me vem à memória nenhum livro de Jorge Amado ou outro autor, que me faça pôr uma pedra sobre o assunto e dormir tranquila com a visão romântica de bandos de Rob d’ Jula a pulular estas ilhas.
Clara Vales
Outubro de 2001

Pois é… eles cresceram e já não há poesia ou desprendimento que aguente tanta afronta!

4.9.06

Pedra di Lume - Sal

Fotografia de Aguinaldo Vera-Cruz.
Djô Martins comentou:
"Toca-me sobretudo por reproduzir a quietude do local (...)."
Um grande fotógrafo. Descobrir aqui.

1.9.06

Salah Matteos

Não há dia em que eu não faça uma pesquisa na net que não descortine coisas interessantes. Sobre o mundo, sobre Cabo Verde e, principalmente, sobre a visão que as pessoas têm sobre determinados assuntos. Nem sempre concordo, mas é absolutamente fascinante descobrir essas opiniões. Hoje encontrei este site: http://www.multiculturas.com/vb-salah.htm e deparei-me com Mr. Salah Matteos. Um americano descendente de caboverdeanos com um percurso de vida extraordinário. A ler e a reflectir, concordando-se ou não. Deixo aqui um pequeno trecho, a título de curiosidade e também, para lançar uma acha à fogueira.

“I would like to bring something else to your attention; one of the ancient names of the archipelago called Cabo Verde was called by many of the elders AZIJAH that is in part African Arab tongue. AZIJAH means the mighty Power of God. The prefix Aziz means Power or the Precious of God. The Djah or Jah or Dia means God or Allah or Deus all are the same. Jah is the suffix. The two words together form AZIJAH, which again is to say The Mighty Power Of God or the PRECIOUS of God. The Creole (pidgin) is Guinea Arab Africa, Portuguese and other variables in terms of other languages. For example the late Dr. Amílcar Lopes Cabral (aka) was ABEL-Djassi or Djhassi, which meant the servant or God, Abel meaning servant and Jah in its variables meaning God or Deus or Allah as you wish.”