12.11.06

Momento Selene

Li algures que um grande escritor da era vitoriana ganhava proporcionalmente ao número de palavras que escrevia e não em relação à obra no seu todo. Daí que as suas novelas fossem tão descritivas e tão cheias de… vocábulos! A bem da verdade não fui verificar e nem acredito muito mas... lembrei-me disso agora a propósito do poema “rebuscadinho” (e que me encheu as medidas) que escrevi há uns dias.

Desabafo
...
Pérola mais diáfana essa…
a que lhe ornamenta o manto
azul breu Senhora. Como é
descarada na luz que irradia.
Ensombra-lhe a beleza plácida e
deixa em desassossego os pobres
solitários que se disfarçam de poetas.
Maldita seja Senhora! Enlouquece…
a melodia vítrea que oiço reflectida nas vagas
do oceano. Canto embruxado esse… o que vem
raiado do céu Senhora. Hoje, sequer um véu translúcido
de nuvens lhe vela o semblante. Desejava somente
uma sombra para lhe atenuar o fulgor.
Resplandece tanto a descarada
que ensandece os libertinos de paixão e
desvaira os vagabundos de amor.
Zomba de mim nua na sua formosura e
persegue-me, iluminando os caminhos escusos
que queria apenas tactear. Senhora não vê como
lhe rouba o encanto? Até as estrelas cintilam acanhadas
em nada se assemelhando ao bordado de prata
de outras madrugadas. Lua insolente que está
no firmamento somente para me desafiar com a sua plenitude.
Vadia… Musa mais vagabunda e inconstante.
Abomino-a Senhora.

Obs: Não posso deixar de expressar os meus profundos agradecimentos à lua cheia maravilhosa que aconteceu na semana passada, ao programa Word, no auxílio precioso que ofereceu com os sinónimos (a descobrir!) e ao espírito de algum trovador do século XIX que entretanto já ascendeu bem alto...