30.7.07
22.7.07
Linhas Férreas em Cabo Verde - por Salomão Vieira - Parte II
2. Outras vias férreas em Cabo Verde
Nenhuma outra ilha de Cabo Verde teve caminhos-de-ferro do tipo dos caminhos-de-ferro salineiros construídos na ilha do Sal.
Porém na ilha de S. Vicente, no Porto Grande, Mindelo, diversas pequenas vias férreas existiram desde cedo (desde 1853) para o transporte do carvão dos depósitos para os navios.
Em 1925 as 3 casas carvoeiras existentes – Miller & Corys, Co, Wilson e S. Vicente Coaling, Lda, tinham todas as suas linhas férras; a St Vicente Coaling usando sistemas já mais complexos (4 vias férreas de bitola larga e muitas wagonetes nos seus depósitos de carvão, segundo uma fotografia da época).
Grandiosos projectos da casa Blandy em 1912 com 2 vias férreas que saíam do porto, e outros em 1925 que incluíam 12 km de linhas férreas, diversas zorras e também 2 carruagens automotoras para transporte de passageiros e 2 carruagens mistas para passageiros e cargas não tiveram qualquer concretização.
Também na ilha de Santiago, no porto da Cidade da Praia se vêem, em postais da época, duas pequenas vias férreas na ponte de desembarque.
Nunca, porém, que conste, se utilizou nelas outra tracção que não a humana, mesmo quando modernos sistemas de tracção estavam já em uso nos guindastes dos portos.
Referências entre os anos de 1913 e 1915 no Jornal do Comércio e das Colónias, de Lisboa, sobre projectos de caminhos-de-ferro, funiculares e aéreos, na ilha de Santo Antão não passaram de equívocos a propósito da construção de um túnel para estrada.
Nenhuma outra ilha de Cabo Verde teve caminhos-de-ferro do tipo dos caminhos-de-ferro salineiros construídos na ilha do Sal.
Porém na ilha de S. Vicente, no Porto Grande, Mindelo, diversas pequenas vias férreas existiram desde cedo (desde 1853) para o transporte do carvão dos depósitos para os navios.
Em 1925 as 3 casas carvoeiras existentes – Miller & Corys, Co, Wilson e S. Vicente Coaling, Lda, tinham todas as suas linhas férras; a St Vicente Coaling usando sistemas já mais complexos (4 vias férreas de bitola larga e muitas wagonetes nos seus depósitos de carvão, segundo uma fotografia da época).
Grandiosos projectos da casa Blandy em 1912 com 2 vias férreas que saíam do porto, e outros em 1925 que incluíam 12 km de linhas férreas, diversas zorras e também 2 carruagens automotoras para transporte de passageiros e 2 carruagens mistas para passageiros e cargas não tiveram qualquer concretização.
Também na ilha de Santiago, no porto da Cidade da Praia se vêem, em postais da época, duas pequenas vias férreas na ponte de desembarque.
Nunca, porém, que conste, se utilizou nelas outra tracção que não a humana, mesmo quando modernos sistemas de tracção estavam já em uso nos guindastes dos portos.
Referências entre os anos de 1913 e 1915 no Jornal do Comércio e das Colónias, de Lisboa, sobre projectos de caminhos-de-ferro, funiculares e aéreos, na ilha de Santo Antão não passaram de equívocos a propósito da construção de um túnel para estrada.
3. Algumas citações sobre as salinas e os caminhos-de-ferro da ilha do Sal
Em “A ILHA DO SAL DE CABO VERDE”, por Joaquim Vieira Botelho da Costa – Boletim da Sociedade de Geografia nº 11 de 1882: “Com o espírito arrojado que possuía (o Conselheiro Martins) nesse ano de 1836 fez assentar o referido caminho-de-ferro, de cerca de 1,5 Km que saindo da salina vinha entestar no lugar de embarque. E foi essa a primeira via férrea assente em território português, bem, como foi o primeiro o túnel por ele mandado abrir no monte da Pedra Lume. Por aquele caminho-de-ferro era conduzido o sal em wagonetes ... que, puxados a muares, o levavam aos depósitos donde em balaios era embarcado à cabeça de mulheres. Se o vento estava de feição, isto é, de NE, supriam as velas, que adaptavam aos carros, ... vindo então os carros da salina puxados pelo vento, e retirando (descarregados), impelidos a braços.”
Em “DESCRIÇÃO DA ILHA DO SAL” por Sócrates da Costa - Revista Colonial, números de Outubro e Novembro de 1888: “Foi o Conselheiro Martins que ali construiu (na ilha do Sal) para o tráfego das salinas o primeiro caminho-de-ferro que houve em toda a monarquia portuguesa.”
4. Bibliografia consultada
Imprensa da época: O Século, Jornal do Comércio e das Colónias, Boletim da Agência Geral das Colónias, Revista das Colónias, Revista de Obras Públicas, Bol. da Sociedade de Geografia, Portugal em África, O Futuro de Cº Verde, A Voz de Cº Verde, Bol. Oficial de Cº Verde. Obras e artigos: “A Ilha do Sal de Cabo Verde”, por Joaquim Botelho Pereira da Costa, Cabo Verde, 1882. “Considerações sobre Cº Verde”, Antº Alfredo Barjona de Freitas – Livrª Férin, Lisboa, 1905. “Subsídios para a História de Cº Verde e Guiné”, Crisóstomo J. de Sena Barcelos, Lisboa, 1911.
“Subsídios para a Indústria de Cabo Verde”, por Augusto Barros, S. Vicente, Cabo Verde, 1916.
Em “A ILHA DO SAL DE CABO VERDE”, por Joaquim Vieira Botelho da Costa – Boletim da Sociedade de Geografia nº 11 de 1882: “Com o espírito arrojado que possuía (o Conselheiro Martins) nesse ano de 1836 fez assentar o referido caminho-de-ferro, de cerca de 1,5 Km que saindo da salina vinha entestar no lugar de embarque. E foi essa a primeira via férrea assente em território português, bem, como foi o primeiro o túnel por ele mandado abrir no monte da Pedra Lume. Por aquele caminho-de-ferro era conduzido o sal em wagonetes ... que, puxados a muares, o levavam aos depósitos donde em balaios era embarcado à cabeça de mulheres. Se o vento estava de feição, isto é, de NE, supriam as velas, que adaptavam aos carros, ... vindo então os carros da salina puxados pelo vento, e retirando (descarregados), impelidos a braços.”
Em “DESCRIÇÃO DA ILHA DO SAL” por Sócrates da Costa - Revista Colonial, números de Outubro e Novembro de 1888: “Foi o Conselheiro Martins que ali construiu (na ilha do Sal) para o tráfego das salinas o primeiro caminho-de-ferro que houve em toda a monarquia portuguesa.”
4. Bibliografia consultada
Imprensa da época: O Século, Jornal do Comércio e das Colónias, Boletim da Agência Geral das Colónias, Revista das Colónias, Revista de Obras Públicas, Bol. da Sociedade de Geografia, Portugal em África, O Futuro de Cº Verde, A Voz de Cº Verde, Bol. Oficial de Cº Verde. Obras e artigos: “A Ilha do Sal de Cabo Verde”, por Joaquim Botelho Pereira da Costa, Cabo Verde, 1882. “Considerações sobre Cº Verde”, Antº Alfredo Barjona de Freitas – Livrª Férin, Lisboa, 1905. “Subsídios para a História de Cº Verde e Guiné”, Crisóstomo J. de Sena Barcelos, Lisboa, 1911.
“Subsídios para a Indústria de Cabo Verde”, por Augusto Barros, S. Vicente, Cabo Verde, 1916.
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21.7.07
Linhas Férreas em Cabo Verde - por Salomão Vieira - Parte I
... ou O PRIMEIRO CAMINHO-DE-FERRO EM DOMÍNIOS PORTUGUESES
Artigo publicado na revista “Bastão-Piloto nº 214, Março-Abril de 2002
Durante o ano de 2001 completaram-se os 145 anos dos caminhos-de-ferro portugueses, tendo em conta que foi em 1856 que foi inaugurado o primeiro troço ferroviário da futura rede de caminhos-de-ferro portugueses. Mas terá sido esse de facto o primeiro caminho-de-ferro instalado em domínios portugueses?
1. As explorações salineiras na ilha do Sal, em Cabo Verde, no Séc. XIX
Para responder a esta pergunta temos que recuar a 1796, data em que Manuel António Martins, chegado a Cabo Verde 4 anos antes, num navio, posteriormente naufragado nos Açores, desembarca no Portinho, no centro-leste da ilha do Sal, que estava então desabitada, e encontra próximo dele um monte circular, o monte da Pedra Lume, tendo no centro um lago que produzia sal que lhe pareceu de excelente qualidade.
Decidiu-se se imediato a explorá-lo. Dado que o transporte do sal da salina da Pedra Lume para o porto era extremamente difícil – era necessário subir as paredes da salina e descer depois o monte até ao mar – Manuel António Martins em 1804 mandou abrir um túnel na base do monte que simplificou de imediato o transporte. Este túnel, completado em 1808, custou-lhe a quantia de 30.000 cruzados.
Preparava-se mais tarde para novas iniciativas na Pedra Lume quando descobriu no sul da ilha uma nova salina cujo sal lhe pareceu ainda de melhor qualidade, pelo que passou a dedicar a esta nova salina toda a sua atenção. Para o desenvolvimento da salina era necessário fixar população na ilha e por isso mandou vir da América casas de madeira, o que fez com que em 1836 já houvesse 12 famílias na ilha do Sal, tendo sido este o início da futura povoação de Santa Maria.
Para facilitar o transporte do sal, sempre difícil através dos terrenos arenosos da ilha tomou nova iniciativa: em 1836 “mandou vir de Inglaterra o primeiro caminho-de-ferro que se assentou em domínios portugueses, bem como os respectivos carros para o transporte do sal”. O caminho-de-ferro foi montado e começou a funcionar em 1837, ano em que em Portugal ainda se curavam as feridas da guerra civil fratricida e quando ainda se estava longe de pensar em tais modernidades.
(Convém referir que o sal tinha então mercado certo no Brasil, que importava desta ilha a maior parte do que consumia. Devido às referidas actividades de Manuel António Martins a exportação de sal passou de 150 a 200 moios em 1836 para 2.000 moios depois da construção do caminho-de-ferro. Nota: 1 moio de sal = 2.400 litros).
Qual a tracção utilizada? A tracção humana, certamente, que em alguns casos mais se poderia chamar de desumana. A tracção animal, também, com gado muar. Porém era difícil a criação de gado na ilha, e em anos muito secos o gado morria à fome. Por isso desde o início se usou também a tracção à vela (uma inovação e uma raridade) para o que se fizeram as necessárias adaptações aos carros. A tracção à vela foi o único meio de tracção não humana quando alguns anos mais tarde a seca dizimou todo o gado existente na ilha.
Os autores da época conheciam bem estes factos e não se cansaram de salientar o pioneirismo das iniciativas de Manuel António Martins, de cujos elogios daremos no final alguns extractos.
Aliás a vida de Manuel António Martins foi de facto recheada de tantos e tais episódios que mostram o que era a vida por aquelas paragens então. Preso por uns, nomeado Prefeito das Ilhas por outros, novamente perseguido e preso, e novamente recompensado com o título de Conselheiro, assim viveu até ao seu falecimento em1847. A sociedade comercial que constituíra continuou com o nome de Viúva de Martins & Filhos, vindo a pedir em Janeiro de 1849 “o privilégio por 30 anos para que na ilha não pudesse estabelecer-se nenhum outro caminho-de-ferro”, pois que “pretendia construir um cais e assentar novos rails de caminho-de-ferro, mas temiam a concorrência”. Pedido indeferido em 1850, “pois que não podia haver privilégios”.
Assim em 1860 aparece João José da Vera Cruz, casado com uma neta do Conselheiro Martins, que solicita e obtém concessão para construir uma ponte de madeira e um caminho-de-ferro para exportação das suas concessões salineiras (B.O. de Cabo Verde, 08.12.1860). O caminho-de-ferro desta casa ficava no lado leste da povoação, tendo algum tempo depois construído uma segunda ponte com um ramal a ligá-la à linha principal. Depois, em 1869, é a vez de 2 netos do mesmo conselheiro constituírem a firma Machado Irmãos e construírem também uma ponte e um caminho-de-ferro com vários ramais no lado oeste da povoação. A povoação de Santa Maria era então atravessada por 3 caminhos-de-ferro, mas em breve o central, que fora construído pelo Conselheiro Martins, era abandonado e em 1877 os herdeiros tinham já desmantelado tudo.
Qual a bitola destes pequenos caminhos-de-ferro com uma extensão máxima de cerca de 1,5 km, fora as ramificações nas salinas e junto às pontes de embarque? Não o sabemos directamente. Mas num relatório de recomendação de caminhos-de-ferro idênticos para as outras ilhas salineiras, a do Maio e a da Boa Vista, sugeria-se a linha Décauville, com a bitola de 60 cm, em carris de aço de 7,5 kg, como sendo a mais adequada, podendo então supor-se que essa seria a bitola e o tipo dos caminhos-de-ferro da ilha do Sal (In “Subsídios pª a Indústria de Cabo Verde”, por Augusto Barros).
A indústria do sal continuou próspera (25.000 tons. de exportação por ano) até que em 1887 o Brasil decidiu sobrecarregar as importações do sal com tais alcavalas que o comércio da ilha do Sal decaiu estrondosamente e no final do séc. XIX estava quase extinto. Porém no início do séc. XX voltou a animar-se com a abertura de novos mercados na costa de África, e é assim que em plantas de pormenor da povoação de Santa Maria lá vemos assinalados os 2 caminhos-de-ferro anteriormente referidos, sendo que num mapa de 1902 vemos assinalados na povoação a leste o caminho-de-ferro da casa Vera Cruz e a oeste o camº-de-ferro da casa Fonseca Santos & Viana.
Por volta dos anos 20 encontramos mapas da ilha do Sal onde aparecem referidos caminhos-de-ferro: não só a sul, junto de Santa Maria, mas também na Pedra Lume, havendo indicações de que em 1911 aqui teria sido instalada uma linha férrea Décauville do porto à salina, pelo túnel construído um século antes pelo Conselheiro Martins. E em mapas posteriores (anos 50) vê-se na Pedra Lume a indicação, não já de um Décauville, mas sim de um teleférico que teria sido então construído para o mesmo fim.
E coube assim à ilha do Sal a glória de ter sido a primeira parcela dos domínios da coroa portuguesa a receber o extraordinário melhoramento que era no séc. XIX o caminho-de-ferro. Caminhos-de-ferro pequenos, minúsculos, é certo, mas úteis, operacionais, os primeiros e ... à vela também.
Artigo publicado na revista “Bastão-Piloto nº 214, Março-Abril de 2002
Durante o ano de 2001 completaram-se os 145 anos dos caminhos-de-ferro portugueses, tendo em conta que foi em 1856 que foi inaugurado o primeiro troço ferroviário da futura rede de caminhos-de-ferro portugueses. Mas terá sido esse de facto o primeiro caminho-de-ferro instalado em domínios portugueses?
1. As explorações salineiras na ilha do Sal, em Cabo Verde, no Séc. XIX
Para responder a esta pergunta temos que recuar a 1796, data em que Manuel António Martins, chegado a Cabo Verde 4 anos antes, num navio, posteriormente naufragado nos Açores, desembarca no Portinho, no centro-leste da ilha do Sal, que estava então desabitada, e encontra próximo dele um monte circular, o monte da Pedra Lume, tendo no centro um lago que produzia sal que lhe pareceu de excelente qualidade.
Decidiu-se se imediato a explorá-lo. Dado que o transporte do sal da salina da Pedra Lume para o porto era extremamente difícil – era necessário subir as paredes da salina e descer depois o monte até ao mar – Manuel António Martins em 1804 mandou abrir um túnel na base do monte que simplificou de imediato o transporte. Este túnel, completado em 1808, custou-lhe a quantia de 30.000 cruzados.
Preparava-se mais tarde para novas iniciativas na Pedra Lume quando descobriu no sul da ilha uma nova salina cujo sal lhe pareceu ainda de melhor qualidade, pelo que passou a dedicar a esta nova salina toda a sua atenção. Para o desenvolvimento da salina era necessário fixar população na ilha e por isso mandou vir da América casas de madeira, o que fez com que em 1836 já houvesse 12 famílias na ilha do Sal, tendo sido este o início da futura povoação de Santa Maria.
Para facilitar o transporte do sal, sempre difícil através dos terrenos arenosos da ilha tomou nova iniciativa: em 1836 “mandou vir de Inglaterra o primeiro caminho-de-ferro que se assentou em domínios portugueses, bem como os respectivos carros para o transporte do sal”. O caminho-de-ferro foi montado e começou a funcionar em 1837, ano em que em Portugal ainda se curavam as feridas da guerra civil fratricida e quando ainda se estava longe de pensar em tais modernidades.
(Convém referir que o sal tinha então mercado certo no Brasil, que importava desta ilha a maior parte do que consumia. Devido às referidas actividades de Manuel António Martins a exportação de sal passou de 150 a 200 moios em 1836 para 2.000 moios depois da construção do caminho-de-ferro. Nota: 1 moio de sal = 2.400 litros).
Qual a tracção utilizada? A tracção humana, certamente, que em alguns casos mais se poderia chamar de desumana. A tracção animal, também, com gado muar. Porém era difícil a criação de gado na ilha, e em anos muito secos o gado morria à fome. Por isso desde o início se usou também a tracção à vela (uma inovação e uma raridade) para o que se fizeram as necessárias adaptações aos carros. A tracção à vela foi o único meio de tracção não humana quando alguns anos mais tarde a seca dizimou todo o gado existente na ilha.
Os autores da época conheciam bem estes factos e não se cansaram de salientar o pioneirismo das iniciativas de Manuel António Martins, de cujos elogios daremos no final alguns extractos.
Aliás a vida de Manuel António Martins foi de facto recheada de tantos e tais episódios que mostram o que era a vida por aquelas paragens então. Preso por uns, nomeado Prefeito das Ilhas por outros, novamente perseguido e preso, e novamente recompensado com o título de Conselheiro, assim viveu até ao seu falecimento em1847. A sociedade comercial que constituíra continuou com o nome de Viúva de Martins & Filhos, vindo a pedir em Janeiro de 1849 “o privilégio por 30 anos para que na ilha não pudesse estabelecer-se nenhum outro caminho-de-ferro”, pois que “pretendia construir um cais e assentar novos rails de caminho-de-ferro, mas temiam a concorrência”. Pedido indeferido em 1850, “pois que não podia haver privilégios”.
Assim em 1860 aparece João José da Vera Cruz, casado com uma neta do Conselheiro Martins, que solicita e obtém concessão para construir uma ponte de madeira e um caminho-de-ferro para exportação das suas concessões salineiras (B.O. de Cabo Verde, 08.12.1860). O caminho-de-ferro desta casa ficava no lado leste da povoação, tendo algum tempo depois construído uma segunda ponte com um ramal a ligá-la à linha principal. Depois, em 1869, é a vez de 2 netos do mesmo conselheiro constituírem a firma Machado Irmãos e construírem também uma ponte e um caminho-de-ferro com vários ramais no lado oeste da povoação. A povoação de Santa Maria era então atravessada por 3 caminhos-de-ferro, mas em breve o central, que fora construído pelo Conselheiro Martins, era abandonado e em 1877 os herdeiros tinham já desmantelado tudo.
Qual a bitola destes pequenos caminhos-de-ferro com uma extensão máxima de cerca de 1,5 km, fora as ramificações nas salinas e junto às pontes de embarque? Não o sabemos directamente. Mas num relatório de recomendação de caminhos-de-ferro idênticos para as outras ilhas salineiras, a do Maio e a da Boa Vista, sugeria-se a linha Décauville, com a bitola de 60 cm, em carris de aço de 7,5 kg, como sendo a mais adequada, podendo então supor-se que essa seria a bitola e o tipo dos caminhos-de-ferro da ilha do Sal (In “Subsídios pª a Indústria de Cabo Verde”, por Augusto Barros).
A indústria do sal continuou próspera (25.000 tons. de exportação por ano) até que em 1887 o Brasil decidiu sobrecarregar as importações do sal com tais alcavalas que o comércio da ilha do Sal decaiu estrondosamente e no final do séc. XIX estava quase extinto. Porém no início do séc. XX voltou a animar-se com a abertura de novos mercados na costa de África, e é assim que em plantas de pormenor da povoação de Santa Maria lá vemos assinalados os 2 caminhos-de-ferro anteriormente referidos, sendo que num mapa de 1902 vemos assinalados na povoação a leste o caminho-de-ferro da casa Vera Cruz e a oeste o camº-de-ferro da casa Fonseca Santos & Viana.
Por volta dos anos 20 encontramos mapas da ilha do Sal onde aparecem referidos caminhos-de-ferro: não só a sul, junto de Santa Maria, mas também na Pedra Lume, havendo indicações de que em 1911 aqui teria sido instalada uma linha férrea Décauville do porto à salina, pelo túnel construído um século antes pelo Conselheiro Martins. E em mapas posteriores (anos 50) vê-se na Pedra Lume a indicação, não já de um Décauville, mas sim de um teleférico que teria sido então construído para o mesmo fim.
E coube assim à ilha do Sal a glória de ter sido a primeira parcela dos domínios da coroa portuguesa a receber o extraordinário melhoramento que era no séc. XIX o caminho-de-ferro. Caminhos-de-ferro pequenos, minúsculos, é certo, mas úteis, operacionais, os primeiros e ... à vela também.
20.7.07
Bem menos do que seis degraus de separação
Há uns tempos perguntava um professor meu se aqui também “postava” contribuições de outras pessoas… se convidava alguém para escrever? Respondi que não. Pois hoje digo que sim! O artigo que se segue, e que vem dividido em dois posts (logo em cima) é de autoria do Sr. Salomão Vieira. A quem agradeço muitíssimo pelo contributo. A internet tem dessas coisas… diminuir substancialmente os tais seis degraus de separação e aproximar as pessoas que têm interesses comuns ou semelhantes. O Sr. Salomão chegou ao blog por causa do post “Salins du Cap Vert” e o seu “conhecimento das salinas da ilha do Sal (...) vem (do) interesse geral pela história dos caminhos-de-ferro em Portugal e no ‘Ultramar’.” Trabalhou “vários anos em África, em Moçambique, Angola e S. Tomé (…). Assim quando soube que na ilha do Sal tinha havido caminhos-de-ferro, o (seu) interesse foi despertado para o assunto e decidi(u) investigá-lo um pouco mais.” Disse o ainda o Sr. Salomão Vieira: “Calcule a minha surpresa quando vim a saber que o caminho-de-ferro na ilha do Sal foi o primeiro caminho-de-ferro assente em domínios portugueses de então, muito antes de se começarem a assentar caminhos-de-ferro em Portugal ‘Continental’." Os posts que se seguem são um resumo do que ele conseguiu descobrir…
Obs: Mais fotografias antigas de São Tomé e Prícipe aqui.
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19.7.07
O Pescador
(...)
Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não."
.
A legenda da fotografia diz o seguinte: Cape Verde. Tunafishing between the islands Sao Nicolau and Sao Vicente. Tunafishing is practised with line and bait. In small boats fishermen sail at sunset to trace tuna on their way to European coasts. After the line is drawn a long wait starts. When a tunafish touch the bait the fisherman will awake and the battle starts.
.
É uma imagem que transmite muita paz e liberdade. Quase que se pode ouvir a brisa, os salpicos das ondas e o balançar do bote. Pensar que ele se prepara para a luta...
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