26.2.07

Interrogações semi loucas em forma de diálogo.

- Penso muito em Amaranta ultimamente. Interrogo-me do porquê. Porque agarra ela as brasas de carvão naquela manhã cintilante de Primavera?
- Para que a dor da própria carne lhe endureça o coração e na cegueira dos sentidos encontre a cura. O tacto… perde-o com as cicatrizes e o negro das ligaduras abafa o odor da memória. Acho que o grito ainda lhe percorre o corpo. Mantém-no preso. Acarinha-o. Tudo mais é lenda. O porquê da surdez do momento. A mortalha de linho branco ainda em forma de meada…
- Enganas-te! A poesia da tua resposta raia a patetice. Amaranta segura os tições por puro poder. Para que os que irão julga-la, como tu, leiam desespero. Ela assenhora-se do espectáculo. Tece com determinação até o momento da morte. Borda o destino. Vinga-se dos outros. Domina-os com a projecção poética que rodeia o acto. Diz-me… quem não teme uma mulher enlouquecida de amor? Percebes? Ela brinca. Mascara, expondo o clarão do poder, no breu com que envolve as mãos. Simplesmente pelo poder.
- Mas o reflexo do poder tem de ser necessariamente negro?
- Acho que sim… ainda que na maioria das vezes se dissimule com outras cores do espectro. A capacidade de mutação não lhe altera a natureza, nem quando se veste de luz e esperança.
- … e o desamor que levou à acção? E a velha fórmula “luz igual ausência de trevas”. Uma fantochada?
- Quase, mas não desse modo. O amor é mais parecido com a letra daquela música dos anos 80 “a ponte é uma passagem p’rá outra margem… a ponte é uma miragem.” Difícil se vislumbrar se se não se arrisca a entrar nas brumas e, uma vez nelas, a maior parte das vezes…
- …perdemo-nos.
- No princípio há o mistério, a descoberta, o encontro e depois… onde vai dar?
-À luta pelo poder sobre o outro?
- Voilà! Brigar para ser o dono dos fios invisíveis que condicionarão as acções do ou dos outros.
- É maquiavélico!
- Não… é humano e acontece todos os dias a todos os níveis. Percebes agora porque Amaranta faz o que faz?
- E quando há arrependimento?
- É uma merda! São detalhes desses que dão cabo da eficácia de muitas lutas.
– Então é por isso que, quase no fim da mortalha, ela descose todas as noites os bordados que fez durante o dia…
- Sim, o poder e o medo andam de mãos dadas.
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Amaranta mora em Cem Anos de Solidão, livro de Gabriel Garcia Marquez. Não é bem esse motivo porque queima as mãos nas brasas do fogão da cozinha mas… pode ter sido. A música é da extinta banda “Jafumega” e eu gostaria de poder dizer que a leitura de “O Príncipe” não me subiu à cabeça durante este fim de semana… Buuu!

19.2.07

O meu sonho irá

"Levado pelo vento, pelas nuvens, pelas asas.
(...) E nas fotografias da terra,
Comprados por turistas estrangeiros
Felizes e sorridentes. (...)
Eu sei que fico mas o meu sonho irá ... "
Poema de Aguinaldo Fonseca e fotografia daqui

11.2.07

"Vou Ser Senhor do Mundo"

"Vou falar com o Pássaro-Rei, vou-lhe pedir um favorzinho: vou ver se ele me dá emprestado sete penas brancas para eu voar e ir poisar no teto do mundo. Se ele disser que sim, estou garantido, porque Capotona-Preta prometeu virar-me dum passo para o outro, em senhor da terra, senhor das águas, senhor dos céus, senhor do Mundo. Mas é se eu voar com as sete penas brancas e for poisar no teto do Mundo. E porquê ele não me faz o favorzinho, se lhe levo um punhado de milho e se lhe digo: — Por favor?"
poema de Jorge Barbosa e fotografia daqui.

1.2.07

Esgrovêt na HI5

Eu, (nem sempre) humilde pecadora me confesso… caí na tentação do "esgrovêt" da vida alheia! Vasculhei barbaramente todos os nomes que me vieram à cabeça, quer simpatizasse ou não. Amigos, conhecidos e desconhecidos… varri tudo! Não adiantou nada e sequer fez de mim uma pessoa melhor, pelo contrário. No fim apenas conseguia questionar o porquê da existência do HI5. Ok, ok, como não sou uma pessoa de muitos amigos, é fácil, para quem me conhece minimamente, entender que pergunte - como é possível haver gente que consegue ter 100, 200 até 500 (!!!) amigos numa lista da internet em que todos podem ter acesso? Tudo chapadinho, com fotografias, informações e comentários. Muito do lindo e muito do público! Será que vale mesmo a pena ter uma página on line onde divulgamos os nossos dados, os retratos mais bonitos e exibimos os amigos, conhecidos e familiares desta forma? É realmente necessário tornar público os bons sentimentos que nutrimos pelos outros? Qual a verdadeira utilidade do HI5? Haverá mais pessoas a pensar como eu? Há! A coisa boa deste mundo globalizado é que quando julgamos estar na periferia da periferia do acontecimento eis que, mediante uma simples busca no google, com as palavras desvantagens vantagens hi5 surgem 307 links! Encontrei um texto muito engraçado do Nuno Markl, o autor do livro “O homem que mordeu o cão”, que recomendo. Entretanto, fica para uma proxima vez um post sobre vantagens desvantagens blogs.