- Penso muito em Amaranta ultimamente. Interrogo-me do porquê. Porque agarra ela as brasas de carvão naquela manhã cintilante de Primavera?
- Para que a dor da própria carne lhe endureça o coração e na cegueira dos sentidos encontre a cura. O tacto… perde-o com as cicatrizes e o negro das ligaduras abafa o odor da memória. Acho que o grito ainda lhe percorre o corpo. Mantém-no preso. Acarinha-o. Tudo mais é lenda. O porquê da surdez do momento. A mortalha de linho branco ainda em forma de meada…
- Enganas-te! A poesia da tua resposta raia a patetice. Amaranta segura os tições por puro poder. Para que os que irão julga-la, como tu, leiam desespero. Ela assenhora-se do espectáculo. Tece com determinação até o momento da morte. Borda o destino. Vinga-se dos outros. Domina-os com a projecção poética que rodeia o acto. Diz-me… quem não teme uma mulher enlouquecida de amor? Percebes? Ela brinca. Mascara, expondo o clarão do poder, no breu com que envolve as mãos. Simplesmente pelo poder.
- Mas o reflexo do poder tem de ser necessariamente negro?
- Acho que sim… ainda que na maioria das vezes se dissimule com outras cores do espectro. A capacidade de mutação não lhe altera a natureza, nem quando se veste de luz e esperança.
- … e o desamor que levou à acção? E a velha fórmula “luz igual ausência de trevas”. Uma fantochada?
- Quase, mas não desse modo. O amor é mais parecido com a letra daquela música dos anos 80 “a ponte é uma passagem p’rá outra margem… a ponte é uma miragem.” Difícil se vislumbrar se se não se arrisca a entrar nas brumas e, uma vez nelas, a maior parte das vezes…
- …perdemo-nos.
- No princípio há o mistério, a descoberta, o encontro e depois… onde vai dar?
-À luta pelo poder sobre o outro?
- Voilà! Brigar para ser o dono dos fios invisíveis que condicionarão as acções do ou dos outros.
- É maquiavélico!
- Não… é humano e acontece todos os dias a todos os níveis. Percebes agora porque Amaranta faz o que faz?
- E quando há arrependimento?
- É uma merda! São detalhes desses que dão cabo da eficácia de muitas lutas.
- Para que a dor da própria carne lhe endureça o coração e na cegueira dos sentidos encontre a cura. O tacto… perde-o com as cicatrizes e o negro das ligaduras abafa o odor da memória. Acho que o grito ainda lhe percorre o corpo. Mantém-no preso. Acarinha-o. Tudo mais é lenda. O porquê da surdez do momento. A mortalha de linho branco ainda em forma de meada…
- Enganas-te! A poesia da tua resposta raia a patetice. Amaranta segura os tições por puro poder. Para que os que irão julga-la, como tu, leiam desespero. Ela assenhora-se do espectáculo. Tece com determinação até o momento da morte. Borda o destino. Vinga-se dos outros. Domina-os com a projecção poética que rodeia o acto. Diz-me… quem não teme uma mulher enlouquecida de amor? Percebes? Ela brinca. Mascara, expondo o clarão do poder, no breu com que envolve as mãos. Simplesmente pelo poder.
- Mas o reflexo do poder tem de ser necessariamente negro?
- Acho que sim… ainda que na maioria das vezes se dissimule com outras cores do espectro. A capacidade de mutação não lhe altera a natureza, nem quando se veste de luz e esperança.
- … e o desamor que levou à acção? E a velha fórmula “luz igual ausência de trevas”. Uma fantochada?
- Quase, mas não desse modo. O amor é mais parecido com a letra daquela música dos anos 80 “a ponte é uma passagem p’rá outra margem… a ponte é uma miragem.” Difícil se vislumbrar se se não se arrisca a entrar nas brumas e, uma vez nelas, a maior parte das vezes…
- …perdemo-nos.
- No princípio há o mistério, a descoberta, o encontro e depois… onde vai dar?
-À luta pelo poder sobre o outro?
- Voilà! Brigar para ser o dono dos fios invisíveis que condicionarão as acções do ou dos outros.
- É maquiavélico!
- Não… é humano e acontece todos os dias a todos os níveis. Percebes agora porque Amaranta faz o que faz?
- E quando há arrependimento?
- É uma merda! São detalhes desses que dão cabo da eficácia de muitas lutas.
– Então é por isso que, quase no fim da mortalha, ela descose todas as noites os bordados que fez durante o dia…
- Sim, o poder e o medo andam de mãos dadas.
- Sim, o poder e o medo andam de mãos dadas.
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Amaranta mora em Cem Anos de Solidão, livro de Gabriel Garcia Marquez. Não é bem esse motivo porque queima as mãos nas brasas do fogão da cozinha mas… pode ter sido. A música é da extinta banda “Jafumega” e eu gostaria de poder dizer que a leitura de “O Príncipe” não me subiu à cabeça durante este fim de semana… Buuu!
Amaranta mora em Cem Anos de Solidão, livro de Gabriel Garcia Marquez. Não é bem esse motivo porque queima as mãos nas brasas do fogão da cozinha mas… pode ter sido. A música é da extinta banda “Jafumega” e eu gostaria de poder dizer que a leitura de “O Príncipe” não me subiu à cabeça durante este fim de semana… Buuu!