11.10.07

A proposito da Guiné... Didinho.Org

Tenho evitado falar da Guiné porque penso que as memórias que tenho dela são idealizadas e retorcidas. Daí que não queira traduzir nenhum tipo de saudade passadista. Posso dizer, apesar de todas as vicissitudes, que a minha infância foi mágica e feliz (e um dia escreverei sobre isso). Claro que, generalizando, todos pensam o mesmo da meninice. Infelizmente a Guiné de hoje apresenta um cenário triste e um futuro sombrio. E, tenho que o expressar, acho que os muitos caboverdeanos que lá nasceram, cresceram e se fizeram adultos, a abandonaram. É a própria História a confirmar essa premissa quando, em 1980, com o Golpe de Estado, o C do “Dôs Corpu um Corçon” se liberta, com um grande alívio, do G. Em Cabo Verde, às vezes, fico com a sensação que a única herança que restou, para quem lá viveu, são as comidas típicas como o tchabéu, o caldo de mancarra ou outras, que se degustam, sem remorso ou amargo de boca, em grandes almoçaradas. Nessas ocasiões há o ritual de recordar a infância e vida na altura, com um saudosismo quase idiota, sendo a presente conjuntura, a maior parte das vezes, higienicamente ignorada. Raros são os que sequer lá voltaram. Aquele país deu muito aos caboverdeanos, incluindo uma Independência sem sofrimentos, sem viúvas e/ou órfãos, sem traumas e mutilados. Muitos dirão que a vida continua. É verdade, mas a mim, confesso, faz-me falta esse pedaço, o lugar da minha mininéça. Imagino o que não faltará aos outros...
Há muitos sites com o objectivo de divulgar o que acontece, presentemente, na Guiné-Bissau e Didinho.Org é um deles. A descobrir porque as palavras e as ideias ainda podem ajudar a mudar o mundo. Obs: Fotografia de Hugo Delgado