Feliz Natal e Prospero 2008
21.12.07
11.12.07
7.12.07
A Grande Viagem
Agora, imagina isso cantado...baixa uma músia dela: "Nutridinha".
4.12.07
Na tarde do dia 30 de Julho de 1967...
30.11.07
“Breves Apontamentos sobre as Formas Musicais existentes em Cabo Verde” por Margarida Brito
Os ritmos assim nascidos traduzem toda a idiossincrasia deste povo e constituem, antes de mais, verdadeiras crónicas vivas e expressivas da sua vida, como companheiros de trabalho, exprimindo a alegria, a nostalgia, a esperança, o amor, a jocosidade, o apego à terra, os problemas existenciais bem como a própria natureza.
É assim, que vamos encontrar muitos géneros vocais e instrumentais comuns a várias ilhas; outros próprios de uma só ilha, de duas ilhas vizinhas ou mesmo distantes; quase todos eles monódicos, às vezes em uníssono e a solo.
Nas ilhas agrícolas, nomeadamente St. Antão, S. Nicolau. S. Tiago, Fogo e Brava, onde o homem cuida da terra que lhe dá o pão para o seu sustento, decerto à custa de dificuldades várias, iremos encontrar as cantigas agrícolas umas vezes doloridas outras alegres. (...)"
O artigo completo pode ser lido aqui ou In “Os Instrumentos Musicais em Cabo Verde”, pp. 13 a 25, Ed. Centro Cultural Português / Praia – Mindelo
19.11.07
Poema
Ró-Rojinha perguntas porque não ponho nada de novo. É uma daquelas fases. O melhor é ficar parada para não deletar tudo. Mas olha... ando a ouvir esta musica. É linda. Presta atenção ao Poema. Bijin.
8.11.07
Outra vez "Perdão Emília"
7.11.07
Uma madrugada surreal
Numa noite dessas, uma brisa suave desfiava as nuvens, desenhando no firmamento o efeito de um riacho que corria tranquilo lá no alto. Estendi a mão, fazendo de conta que mergulhava na água, e tentei apanhar um dos brilhantes que luziam caídos no leito.
Algo de surreal aconteceu… o riacho mudou de curso. Deslizou do céu numa obliqua à parede branca e veio desembocar no meu quintal feito cascata de luz. Dei por mim flutuando no delírio de me afogar… como os meninos do conto de Gabu. Nesse momento, enquanto o cigarro se consumia sozinho, alaguei a alma em soluços mudos ou, se calhar, foram apenas os meus olhos que se derramaram… não sei.
Seguidamente o ribeiro desenhou o seu caminho de volta numa linha alada. Ainda quis guardar uma estrela de recordação, assim como quem guarda a continha de vidro de um colar bonito que se partiu, mas já não valia a pena. É melhor idealizar o todo, ainda que evocado, do que a mera visão do fragmento que não mais será.
Nessa madrugada parei de contar na quadragésima oitava estrela Tio. Penso que vou deixar de tentar entender o porquê. Seria uma grande decepção confirmar que podemos todos estar aqui por fruto do mero acaso e da mesma forma partimos. - Quadro de Rachel Bullock tirado daqui.
30.10.07
Rádio Clube Mindelo - CR4AB
Em Junho de 1954, o Grémio Recreativo do Mindelo apresentava aos sócios a aparelhagem destinada ao seu serviço de radiodifusão. Um ano mais tarde, com apoio estatal, nascia a Rádio Barlavento, emitindo diariamente na banda dos 50,2 metros, das 18h30 às 19h30. Funcionando no edifício do Centro Nacional de Artesanato e antiga casa do senador Vera-Cruz, e ali foram realizadas as primeiras gravações editadas em disco.
A Rádio Barlavento, considerada elitista por ser originária da elite mindelense, e anti-independentista, foi ocupada a 9 de Dezembro de 1974 e transformada em Rádio Voz de S. Vicente que , tal como a Rádio Clube de Cabo Verde veria a desaparecer com a criação da Rádio Nacional de Cabo Verde que as absorveu. (...)" por Glaucia Nogueira
24.10.07
Sedução
C’mád espero ter feito alguma justiça ;)
16.10.07
O Tempo e o...
15.10.07
Guiné... Do Séc. XIII a princípios do Séc. XX
11.10.07
A proposito da Guiné... Didinho.Org
6.10.07
Recordar Travadinha em "Maria Barba"
De seu nome verdadeiro, António Vicente Lopes, o violinista Antoninho Travadinha foi um dos maiores músicos autodidactas de Cabo Verde, originário da ilha de Ilha de Santo Antão. Começou a tocar nos bailes populares quando tinha apenas nove anos, mas só alcançou a fama já nos seus quarenta anos, quando empreendeu uma tournée por Portugal. Para além do violino, Travadinha tocava também maravilhosamente bem viola (guitarra de 12 cordas), cavaquinho e violão. Travadinha interpretava géneros musicais tradicionais de Cabo Verde, tais como mornas e coladeiras. Faleceu em 1987 no auge da popularidade. Foi, sem qualquer dúvida, um dos mais talentosos violinistas (tocadores de rabeca) de Cabo Verde. Nasceu numa família de músicos. O seu pai também era violinista e os seus sete irmãos tocavam violão. Com que mais poderia brincar uma criança que com os instrumentos musicais que encontrava pela casa? Aos nove anos, e apesar do pai o proibir de tocar, ele já animava bailes locais com a sua rabeca. Devido à sua humilde condição social o seu reconhecimento não foi fácil: Travadinha teve que esperar até aos seus 40 anos para começar a tornar-se conhecido como músico, particularmente depois de, em 1981, ter realizado uma série de actuações em Portugal. Da wikipedia.org. "Entre 1981 e 1986, Travadinha deslocou-se duas vezes a Portugal, ocasiões em que gravou os seus dois discos existentes no mercado: o primeiro, ao vivo, resultante de um concerto no Hot Clube em 1982; o segundo, “Feiticeira de Cor Morena”, em 1986. Ambos produzidos pelo fotógrafo e investigador português João Freire. Em Novembro deste ano o violinista de Janela, Santo Antão, completaria 70 anos. Também este ano, completam-se duas décadas do seu falecimento." Na Semanaonline.
1.10.07
Desvendando "O Segredo"
24.9.07
Descobrir: João da Silva Feijó
22.9.07
20.9.07
18.9.07
Ao 100º Post...
10.9.07
Bijagós - Memórias de um pai
O desterro voluntário do velho, por longos períodos, tinha sido a encantadora ilha de Sogá no arquipélago dos Bijagós. E eu, orgulhosamente só em Bissau. Os meus outros dois irmãos mais novos, o Rui e o Djoi, tinham acabado por regressar à protecção e segurança do lar materno. Lá ia aguentando menos-mal a casa da madrasta onde nunca me integrei.
Tornei-me também, junto de outros companheiros de mais idade do Bissau Velho um aventureiro incorrigível de caça, dos banhos e pesca de bentaninhas e bagres nas bolanhas próximas da segunda ponte, lá para os lados de Bulola. Nadávamos em grande algazarra e descontraidamente junto de grandes saltões, de sapos, de lagartixas, de garças, de raras linguanas e de cobras que por vezes se entremeavam, de cabeça erguida, no nosso meio à procura de sossego ou da outra margem, sem contar com os crocodilos que, sempre que alguém gritava lagarto saltávamos em debandada para fora da água. Apesar de alguns terem dito que lhes viam, ali na segunda ponte, nunca os vi. Inventávamos os saltos mais arrojados para a água em especial o “arratchacoco” que repetíamos vezes sem conta em cima dos mais incautos.
Outras vezes, num grupo mais pequeno embarcávamos na lancha “Barreiro” ou no pequeno “Gouveia 16” e íamos para o ilhéu do Rei com os operários da fábrica de óleo de amendoim. Esta aventura era somente para os mais destemidos e que aguentavam fome. Ali não havia árvores de fruto ou quem se condoesse connosco. Voltávamos cedo e durante dias sentíamos o odor do óleo de mancarra para onde fossemos. Por vezes, caminhávamos bem mais longe. Até vermos Cumeré do outro lado de um pequeno rio lodoso, o Impernal. Outras vezes ainda caminhávamos alegres, nus ou semi nus, com a roupa enrodilhada na cabeça, cana de pesca no ombro e a indispensável fisga ao pescoço, sempre em bicha de pirilau, através dos diques das bolanhas e canaviais, através de grandes extensões de terra alagada, até sairmos atrás do quartel de Santa Luzia e entrarmos na Granja do Pessubé. Aqui, num jogo de esconde-esconde com os guardas, surripiávamos fruta e nos banhávamos, se possível, no tanque que apelidávamos de piscina. Depois, ao anoitecer, era o regresso ao Bissau Velho sem sapatos ou algumas peças de roupa, arrependidos e com promessas repetidas de que nunca mais faríamos a pirraça de faltar às aulas. A entrada no Bissau Velho despertava em todos o receio das cintadas ou da palmatória de cinco buracos. Dividíamos no Zé da Amura para não dar nas vistas.
Pai fora e madrasta ocupada com afazeres profissionais. Vida boa. O que mais poderia almejar naquela idade? A vontade de continuar livre foi tanta que após um bom final de exame do segundo grau disse orgulhoso a uma vizinha da minha Mãe, perante um olhar dela de comiseração e surpresa, que não tencionava mais voltar à escola porque o meu Pai tinha dito que para ser pescador não era preciso mais que a quarta classe. Ainda acabei, por alguns meses, como aprendiz de mecânico, nas oficinas navais.
Mas antes, num certo dia, numa das inúmeras passagens pelo porto do Pidjiguiti, após as aulas, soube que a canoa a motor de cerca de nove metros a flutuar desajeitadamente a uns metros, para além da cabeça de ponte, era do meu velho e que se prestava a sair com a vazante, de regresso aos Bijagós. Não hesitei e arranjei forma de embarcar. Ninguém mais conseguiu de lá me tirar por mais argumentos que me fossem apresentados.
Época das chuvas, com uma brisa irregular do Sudoeste, horizonte escuro lá para os lados de Tite e de Enxudé a avisar da aproximação de um tornado e mar algo encapelado lá fomos, meia força avante, apontando, num fim de tarde triste, para a embocadura desse largo rio de onde por vezes não se via a outra margem.
Uma hora depois, resguardado, por uma manta fortuita do arrais Nhô André, compadre do meu velho, fascinou-me ver a água fosforescente a deslizar para trás, as luzes de Bissau a desaparecerem e um farol, o Pedro Álvares, muito ao longe pela proa, por vezes, a piscar. O bater compassado do esporão da canoa nhôminca a cortar as ondas altas, as inclinações laterais e a chuva miudinha pouco me amedrontaram. Sentia-me o herói de uma aventura da banda desenhada do Príncipe Perfeito e do Simbad.
Mesmo assim, lá para as nove, já com a lua a iluminar o rastro deixado pela canoa, após ter tentado imitar os outros, mijei em equilíbrio precário para sotavento, mastiguei a custo um pão duro e bebi, por um dos orifícios, quase meia lata de leite condensado que me deram. Adormeci depois todo enrolado e a tiritar em cima de uma prancha, logo a seguir à arca de gelo.
Uma avaria inesperada no único motor, ao largo da ilhas das Galinhas, faria com que continuássemos, a custo por causa da enchente, à vela e a remos até ao nascer do sol. Lá pelas nove, já com a força da maré de vazante, desembarcamos, perante a fuga de mais de uma dezena de macacos e debandada ocasional dos habituais caqres, numa praia da lindíssima ilha de Rubane. O meu primeiro desembarque de muitas outras paragens pela maioria das mais de 60 ilhas e ilhotas. Achei que aquela paisagem deslumbrante seria a tradução do que deveria ser o paraíso. E nunca me arrependi desse juízo. A viagem continuou ainda para uma outra ilha (Canhabaque) algumas milhas adiante, para recolher o meu Pai, que um dia quase que se tornava um nobre desse pequeno reino dos Bijagós. Muito certamente o primeiro espaço da África negra a sofrer um bombardeamento aéreo na guerra dos Bijagós de Canhabaque contra os poderes coloniais por volta da década de 20 do século passado. Só seriam considerados completamente pacificados após sucessivas campanhas que terminaram em 1936.
Mas, depois contar-te-ei com mais detalhes e também do meu encontro com um pai assustado até dizer chega, por ver a loucura que eu tinha feito e naquelas condições de tempo. O meu receio de poder levar uma valente sova quando ele me visse e as ilhas que percorremos, numa breve semana, até retornar, a toque de caixa, a bordo do lento e estafado “Ametite”, à enfadonha turma da quarta classe da Escola Oliveira Salazar, em Bissau. Poucos dos colegas acreditaram que tinha feito tamanha proeza por ser dos mais novos, franzino e não passar de um brancucinho, que apesar de brigador e rápido, jogava desajeitadamente à bola e que até ia para a escola de tchacual. Ainda hoje, julgo que partilho da mesma praga que tombou sobre Cassandra.
Até aos meus 21 anos nunca mais lá deixei de ir sempre que podia. Aprendi com vários arrais, sem cartas e ou outros instrumentos, a não ser a bússola, a navegar no arquipélago, aproveitando as estrelas à noite e o pulsar regular das marés, por entre aquelas ilhas e canais, ao ponto de, aos 13 anos, levar o “LP3” de Bissau a Bubaque e regresso, sem supervisão do arrais, sem encalhar e demorar mais tempo. Surpreendia-me sempre o Arrais Avião, cego de um olho, que me instruía assim “segue paralelo à Sogá, passa o canal de Bubaque, até veres a ponta mais afastada de Rubane, aproas à ponta e deixas a popa na extremidade norte de Sogá até estares dentro do canal. Atenção ao descaimento provocado pela enchente e na vazante à malhadeira na ponta de Bubaque à entrada do canal”. Um autêntico desafio seguir estas instruções na roda do leme. Umas vezes de canoa a remo ou à vela ou outras vezes no barco de pesca e navios de passageiros fui conhecendo o último paraíso desta costa africana que até há pouco tempo ainda detinha resquícios de uma sociedade matriarcal.
O site dar-te-á o alumbramento do que pude ver pela primeira vez. O encanto das ilhas, suas gentes, flora e fauna nunca se perderam dos meus olhos apesar de ter percorrido mais de meio mundo e visitado lugares exóticos. Vê e diz-me se não é mesmo um paraíso o que descobri ainda na infância.
9.9.07
Texto plexo sem nexo
31.8.07
Curtas, Ideias e Neuras
Ferias na Praia em pleno mês de Agosto… calor, falta de água, falta de luz e sei lá mais o quê. Já foi tudo dito. Para contrabalançar ficou a observação do Guilherme que “Praça d’ Praia (Cruz do Papa) é más sáb! Ten baloiço, ten scorrega. Praça de Soncent ten só tanque! …e baziu”, rematou a Andreia sabiamente. Eu bem que desconfiava... eh eh!
Mudando de assunto…
Ocorreu-me que poderia contar o porquê do apelido (e do nome do blog) Amante da Rosa. É uma estória engraçada. O meu pai também me ofereceu um texto interessante sobre as memórias dele das ilhas dos Bijagós (Guiné Bissau). Falta somente formatar e acrescentar imagens. Outras ideias surgiram e apagaram-se com a mesma velocidade.
Entretanto…
Acho que todos os que têm um blog já sentiram, alguma vez, aquela vontade de deletar tudo muito pura simplesmente (e pronto e mais nada!). Desde ontem que ando assim. Motivos? Mil e um. Falta de inspiração, porque chove e a cidade está caótica, porque é tempo de despedidas, porque... porque... Tenho é uma graça muito grande de explodir no ar, assim como no poema:
Na praça, a única evidência
eram os pombos, o ardor
da cal. De repente
o silêncio sacudiu as crinas,
correu para o mar.
Pensei devíamos morrer assim.
Assim: explodir no ar."
Eugénio de Andrade
3.8.07
Harry Potter, Socrates, o Amor e a Imortalidade
“A visão que Sócrates tem do Amor é a seguinte: considera o Amor um intermediário entre os deuses e os homens – um dáimon -, que origina no homem o desejo de ser mais que mero animal, mais que matéria. O Amor nos situa entre o mundo físico e o mundo espiritual (ou mundo das ideias, como Platão gostaria). Este dáimon, filho da Penúria e do Engenho, faz a ponte entre o mundo ideal e o mundo material, o qual Platão considera uma consolação ridícula, uma cópia mal feita do mundo das ideias puras. Para Platão, esta proximidade dos mortais para com os deuses –que nos consola a penúria da condição biológica - é alcançada através do Belo e do Bom. Quanto mais ideal, mais virtuoso for o objecto do amor de um homem, mais próximo dos deuses ele estará. E mais próximo ainda de alcançar o que todo homem almeja: felicidade (eudaimonia). O Belo, por sua vez, podemos amar numa pessoa, ou na ideia de Beleza, pura e simples. Platão prefere a última, por ser mais filosófica (e o filósofo, para Platão, nada mais é que um dáimon entre os homens, a encarnação do Amor pelo conhecimento(...). Assim, movidos pelo amor, geramos algo no Belo, utilizando o engenho que o Amor herdou de seu pai. Este engenho pode ser chamado de inspiração poética, de bravura, de inteligência, perspicácia, rapidez. O amor por trás de todos estes aprimoramentos do ser humano é o verdadeiro protagonista da série (Harry Potter). O Amor, resumindo bastante, nada mais é que o tónico que nos impele a ser imortais. Só que esta imortalidade não é construída por Horcruxes ou coisitas do género. A imortalidade socrática é a imortalidade da substituição: geramos no Belo. Filhos, poemas, leis e grandes obras, de modo a “gravar” em matéria a Beleza e a Bondade que o homem conquistou em vida. Gerar algo novo para ficar no lugar do velho (de si mesmo), que perece, vira pó. Assim, gera-se a imortalidade dos grandes poetas, dos grandes homens e mulheres.”
30.7.07
22.7.07
Linhas Férreas em Cabo Verde - por Salomão Vieira - Parte II
Nenhuma outra ilha de Cabo Verde teve caminhos-de-ferro do tipo dos caminhos-de-ferro salineiros construídos na ilha do Sal.
Porém na ilha de S. Vicente, no Porto Grande, Mindelo, diversas pequenas vias férreas existiram desde cedo (desde 1853) para o transporte do carvão dos depósitos para os navios.
Em 1925 as 3 casas carvoeiras existentes – Miller & Corys, Co, Wilson e S. Vicente Coaling, Lda, tinham todas as suas linhas férras; a St Vicente Coaling usando sistemas já mais complexos (4 vias férreas de bitola larga e muitas wagonetes nos seus depósitos de carvão, segundo uma fotografia da época).
Grandiosos projectos da casa Blandy em 1912 com 2 vias férreas que saíam do porto, e outros em 1925 que incluíam 12 km de linhas férreas, diversas zorras e também 2 carruagens automotoras para transporte de passageiros e 2 carruagens mistas para passageiros e cargas não tiveram qualquer concretização.
Também na ilha de Santiago, no porto da Cidade da Praia se vêem, em postais da época, duas pequenas vias férreas na ponte de desembarque.
Nunca, porém, que conste, se utilizou nelas outra tracção que não a humana, mesmo quando modernos sistemas de tracção estavam já em uso nos guindastes dos portos.
Referências entre os anos de 1913 e 1915 no Jornal do Comércio e das Colónias, de Lisboa, sobre projectos de caminhos-de-ferro, funiculares e aéreos, na ilha de Santo Antão não passaram de equívocos a propósito da construção de um túnel para estrada.
Em “A ILHA DO SAL DE CABO VERDE”, por Joaquim Vieira Botelho da Costa – Boletim da Sociedade de Geografia nº 11 de 1882: “Com o espírito arrojado que possuía (o Conselheiro Martins) nesse ano de 1836 fez assentar o referido caminho-de-ferro, de cerca de 1,5 Km que saindo da salina vinha entestar no lugar de embarque. E foi essa a primeira via férrea assente em território português, bem, como foi o primeiro o túnel por ele mandado abrir no monte da Pedra Lume. Por aquele caminho-de-ferro era conduzido o sal em wagonetes ... que, puxados a muares, o levavam aos depósitos donde em balaios era embarcado à cabeça de mulheres. Se o vento estava de feição, isto é, de NE, supriam as velas, que adaptavam aos carros, ... vindo então os carros da salina puxados pelo vento, e retirando (descarregados), impelidos a braços.”
Em “DESCRIÇÃO DA ILHA DO SAL” por Sócrates da Costa - Revista Colonial, números de Outubro e Novembro de 1888: “Foi o Conselheiro Martins que ali construiu (na ilha do Sal) para o tráfego das salinas o primeiro caminho-de-ferro que houve em toda a monarquia portuguesa.”
4. Bibliografia consultada
Imprensa da época: O Século, Jornal do Comércio e das Colónias, Boletim da Agência Geral das Colónias, Revista das Colónias, Revista de Obras Públicas, Bol. da Sociedade de Geografia, Portugal em África, O Futuro de Cº Verde, A Voz de Cº Verde, Bol. Oficial de Cº Verde. Obras e artigos: “A Ilha do Sal de Cabo Verde”, por Joaquim Botelho Pereira da Costa, Cabo Verde, 1882. “Considerações sobre Cº Verde”, Antº Alfredo Barjona de Freitas – Livrª Férin, Lisboa, 1905. “Subsídios para a História de Cº Verde e Guiné”, Crisóstomo J. de Sena Barcelos, Lisboa, 1911.
“Subsídios para a Indústria de Cabo Verde”, por Augusto Barros, S. Vicente, Cabo Verde, 1916.
21.7.07
Linhas Férreas em Cabo Verde - por Salomão Vieira - Parte I
Artigo publicado na revista “Bastão-Piloto nº 214, Março-Abril de 2002
Durante o ano de 2001 completaram-se os 145 anos dos caminhos-de-ferro portugueses, tendo em conta que foi em 1856 que foi inaugurado o primeiro troço ferroviário da futura rede de caminhos-de-ferro portugueses. Mas terá sido esse de facto o primeiro caminho-de-ferro instalado em domínios portugueses?
1. As explorações salineiras na ilha do Sal, em Cabo Verde, no Séc. XIX
Para responder a esta pergunta temos que recuar a 1796, data em que Manuel António Martins, chegado a Cabo Verde 4 anos antes, num navio, posteriormente naufragado nos Açores, desembarca no Portinho, no centro-leste da ilha do Sal, que estava então desabitada, e encontra próximo dele um monte circular, o monte da Pedra Lume, tendo no centro um lago que produzia sal que lhe pareceu de excelente qualidade.
Decidiu-se se imediato a explorá-lo. Dado que o transporte do sal da salina da Pedra Lume para o porto era extremamente difícil – era necessário subir as paredes da salina e descer depois o monte até ao mar – Manuel António Martins em 1804 mandou abrir um túnel na base do monte que simplificou de imediato o transporte. Este túnel, completado em 1808, custou-lhe a quantia de 30.000 cruzados.
Preparava-se mais tarde para novas iniciativas na Pedra Lume quando descobriu no sul da ilha uma nova salina cujo sal lhe pareceu ainda de melhor qualidade, pelo que passou a dedicar a esta nova salina toda a sua atenção. Para o desenvolvimento da salina era necessário fixar população na ilha e por isso mandou vir da América casas de madeira, o que fez com que em 1836 já houvesse 12 famílias na ilha do Sal, tendo sido este o início da futura povoação de Santa Maria.
Para facilitar o transporte do sal, sempre difícil através dos terrenos arenosos da ilha tomou nova iniciativa: em 1836 “mandou vir de Inglaterra o primeiro caminho-de-ferro que se assentou em domínios portugueses, bem como os respectivos carros para o transporte do sal”. O caminho-de-ferro foi montado e começou a funcionar em 1837, ano em que em Portugal ainda se curavam as feridas da guerra civil fratricida e quando ainda se estava longe de pensar em tais modernidades.
(Convém referir que o sal tinha então mercado certo no Brasil, que importava desta ilha a maior parte do que consumia. Devido às referidas actividades de Manuel António Martins a exportação de sal passou de 150 a 200 moios em 1836 para 2.000 moios depois da construção do caminho-de-ferro. Nota: 1 moio de sal = 2.400 litros).
Qual a tracção utilizada? A tracção humana, certamente, que em alguns casos mais se poderia chamar de desumana. A tracção animal, também, com gado muar. Porém era difícil a criação de gado na ilha, e em anos muito secos o gado morria à fome. Por isso desde o início se usou também a tracção à vela (uma inovação e uma raridade) para o que se fizeram as necessárias adaptações aos carros. A tracção à vela foi o único meio de tracção não humana quando alguns anos mais tarde a seca dizimou todo o gado existente na ilha.
Os autores da época conheciam bem estes factos e não se cansaram de salientar o pioneirismo das iniciativas de Manuel António Martins, de cujos elogios daremos no final alguns extractos.
Aliás a vida de Manuel António Martins foi de facto recheada de tantos e tais episódios que mostram o que era a vida por aquelas paragens então. Preso por uns, nomeado Prefeito das Ilhas por outros, novamente perseguido e preso, e novamente recompensado com o título de Conselheiro, assim viveu até ao seu falecimento em1847. A sociedade comercial que constituíra continuou com o nome de Viúva de Martins & Filhos, vindo a pedir em Janeiro de 1849 “o privilégio por 30 anos para que na ilha não pudesse estabelecer-se nenhum outro caminho-de-ferro”, pois que “pretendia construir um cais e assentar novos rails de caminho-de-ferro, mas temiam a concorrência”. Pedido indeferido em 1850, “pois que não podia haver privilégios”.
Assim em 1860 aparece João José da Vera Cruz, casado com uma neta do Conselheiro Martins, que solicita e obtém concessão para construir uma ponte de madeira e um caminho-de-ferro para exportação das suas concessões salineiras (B.O. de Cabo Verde, 08.12.1860). O caminho-de-ferro desta casa ficava no lado leste da povoação, tendo algum tempo depois construído uma segunda ponte com um ramal a ligá-la à linha principal. Depois, em 1869, é a vez de 2 netos do mesmo conselheiro constituírem a firma Machado Irmãos e construírem também uma ponte e um caminho-de-ferro com vários ramais no lado oeste da povoação. A povoação de Santa Maria era então atravessada por 3 caminhos-de-ferro, mas em breve o central, que fora construído pelo Conselheiro Martins, era abandonado e em 1877 os herdeiros tinham já desmantelado tudo.
Qual a bitola destes pequenos caminhos-de-ferro com uma extensão máxima de cerca de 1,5 km, fora as ramificações nas salinas e junto às pontes de embarque? Não o sabemos directamente. Mas num relatório de recomendação de caminhos-de-ferro idênticos para as outras ilhas salineiras, a do Maio e a da Boa Vista, sugeria-se a linha Décauville, com a bitola de 60 cm, em carris de aço de 7,5 kg, como sendo a mais adequada, podendo então supor-se que essa seria a bitola e o tipo dos caminhos-de-ferro da ilha do Sal (In “Subsídios pª a Indústria de Cabo Verde”, por Augusto Barros).
A indústria do sal continuou próspera (25.000 tons. de exportação por ano) até que em 1887 o Brasil decidiu sobrecarregar as importações do sal com tais alcavalas que o comércio da ilha do Sal decaiu estrondosamente e no final do séc. XIX estava quase extinto. Porém no início do séc. XX voltou a animar-se com a abertura de novos mercados na costa de África, e é assim que em plantas de pormenor da povoação de Santa Maria lá vemos assinalados os 2 caminhos-de-ferro anteriormente referidos, sendo que num mapa de 1902 vemos assinalados na povoação a leste o caminho-de-ferro da casa Vera Cruz e a oeste o camº-de-ferro da casa Fonseca Santos & Viana.
Por volta dos anos 20 encontramos mapas da ilha do Sal onde aparecem referidos caminhos-de-ferro: não só a sul, junto de Santa Maria, mas também na Pedra Lume, havendo indicações de que em 1911 aqui teria sido instalada uma linha férrea Décauville do porto à salina, pelo túnel construído um século antes pelo Conselheiro Martins. E em mapas posteriores (anos 50) vê-se na Pedra Lume a indicação, não já de um Décauville, mas sim de um teleférico que teria sido então construído para o mesmo fim.
E coube assim à ilha do Sal a glória de ter sido a primeira parcela dos domínios da coroa portuguesa a receber o extraordinário melhoramento que era no séc. XIX o caminho-de-ferro. Caminhos-de-ferro pequenos, minúsculos, é certo, mas úteis, operacionais, os primeiros e ... à vela também.
20.7.07
Bem menos do que seis degraus de separação
19.7.07
O Pescador
27.6.07
Salins du Cap Vert
Sobre Pedra de Lume... acredita-se que o primeiro registro que menciona a existência das salinas remonta a 1506/1508 e foi feito por Valentim Fernandes. Nesta página há informações boas e resumidas, com direito a uma "visita guiada" e tudo. Acho que aos poucos vou saldando as minhas contas com as ilhas. Prometo voltar com mais "velharias" brevemente.
19.6.07
Cize cantando "Ausência" de Goran Bregovic
13.6.07
Lavores - Praia 1946
5.6.07
A morte de Marcus Lopius
30.5.07
O significado do peixe
29.5.07
Um Post e uma Tese de Doutoramento
22.5.07
Links a descobrir
8.5.07
Blogueforanada - sem palavras.
Não se consegue ler tudo de uma vez e o que se vai descobrindo arrepia. Arrepia a estória de Uloma, o comando africano “caçador de cabeças”. Sobressalta o alegado número de fuzilados que o historiador Leopoldo Amado avança e surpreende saber que o Supervisor da 1ª. Companhia de Comandos Africanos e Director de Instrução de Cursos de Comandos em Fá Mandinga, que se chamava Octávio Manuel Barbosa Henriques, nasceu em 18 de Novembro de 1938, na Freguesia de Nª. Sr.ª da Conceição, ilha do Fogo.
É o outro lado e há muito a descobrir...
6.5.07
Um Ano...
10.4.07
Ilha do Maio em 1887 e noutras eras.
Em 1970 foi publicado o livro Geologia da Ilha de Maio (Cabo Verde) de autoria de António Serralheiro. O pequeno resumo que consta do catálogo online começa assim: "Na ilha de Maio as rochas sedimentares mais antigas ocupam grande área e datam, possivelmente, do Jurássico superior (...)". Já me tinham dito que as ilhas do Maio, Boavista e Sal eram as mais velhas do arquipélago, no entanto "em quase todas as ilhas de Cabo Verde existem formações sedimentares. Um dos primeiros cientistas que a eles se referiu foi DARWIN, aquando da viagem da BEAGLE, em 1833". Contudo "(...) as formações sedimentares mais antigas, existentes no arquipélago, de idade mesozóica, apenas se conhecem na ilha de Maio." - As duas últimas citações também são do mesmo autor e estão num outro livro.
8.4.07
Planta incompleta do Mindelo, publicação de 1888
Suporte: Papel Colorido - Tamanho: 31x40cm em folha de 39x48cm